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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mosaicos

Você é uma pessoa única, não há ninguém em todo o universo como você. Essa singularidade e nossa incrível diversidade nos fazem humanos. Deus nos fez assim. A diversidade humana nos torna belos, torna o mundo colorido, repleto de sabores, cores, sons e sentidos vários.
A beleza da diversidade nos tornou seres encantados e teimamos em ser muitos, cada um de nós somos vários: Somos Caeiros, Ricardos, Anas, Messias, Capitus. Somos muitos, apenas um; Mosaicos. Cada um desses que existem dentro de nós mesmos tem sua força, e juntos somos fortes. Somos fortes quando essa multiplicidade e diversidade, que se chama Eu, encontra-se com outra pessoa e lhe dá as mãos.

Um grande poder vem ao encontro de tudo isso, poder que não deseja a diversidade, mas a igualdade, a padronização. Para utilizar as pessoas, para ter poder sobre elas, elas precisam ser iguais, massa humana. Nietzsche chama essa massa de Rebanho, Foucault chamou de Sociedade Disciplinar, a Igreja chama de fiéis, a escola de alunos, a fábrica de empregados, o estado de cidadãos.
Essas forças nos enfraquecem porque violentam nossas características mais essenciais, àquelas que nos torna diferente dos outros, que nos fazem nós mesmos. Essa violência é sutil, se apodera dos discursos, constrói verdades que guiam nossas mentes e domesticam nossos corpos, drenam as energias que deveriam estar a serviço da vida, do prazer, do gozo, da alegria, para servir à manutenção de um tipo de sociedade eleita por alguns, aqueles que lucram com ela, como a ideal.

Onde há poder há resistência. Cedendo ao forte apelo da Sociedade Disciplinar alguns de nós caminha como rebanhos de carneiros bem comportados, obedientes, ignorantes, imbecilizados. Outros resistem, se arriscam a manter um de seus Eus diferente do padrão: anormal, estranho, devasso, subversivo, pecador.
Quando eu era menino lutei contra tudo que havia em mim que não atendia às expectativas ou seguiam as normas da sociedade cristã ocidental. Hoje tento voltar catando os cacos do melhor de mim que ficou pra trás. Quem sabe os cacos sirvam para refazer o mosaico.