Estava conversando com uma amiga enfermeira, a melhor que conheço, fiquei bestificado com a forma que essa querida amiga usava sua fé para dar um belo e forte significado à sua atividade de cuidar das pessoas. Para Binha, “a fé é o firme fundamento da esperança”.
A esperança está no centro da pessoa humana, é aquilo que a move que a arremessa para a vida, a esperança de um mundo mais justo e solidário, a esperança que nossos sonhos e projetos se concretizarão.
Conversando com ela, nos lembramos de um amigo sonhador. Era um rapaz novo, cheio de sonhos e projetos, movido pela esperança.
Sonhar é a capacidade de transformar a esperança em projetos de vida.
Seus desejos de poder e seu coração cristão inclinado para a solidariedade o fez portador de sonhos mirabolantes. Esses sonhos o moviam. Queria ser capaz de transformar o mundo, ser parte de uma grande revolução econômica, política, social e de valores.
Logo viu-se só, devido a tamanha ingenuidade, mas traçou seu tímido caminho e seguiu. O caminho foi duro, mas cheio de aprendizados. Tentaram lhe mostrar um mundo no qual não era permitido sonhar, um mundo dado, pronto, realizado.
Na saga bíblica, a revelação divina nos mostra como a sociedade tenta matar nossos sonhos, mas eles nunca conseguem, o máximo que os irmãos de José conseguiram foi jogá-lo em um buraco. A revelação é surpreendente, pois é exatamente isso que ocorre, a sociedade do capital não precisa de sonhadores, mas sim de peças e engrenagens que se encaixem em um de seus inúmeros sistemas: financeiros, industriais, de serviços e até religiosos. Nossos sonhos são logo jogados em buracos distantes e esquecidos da nossa alma, até pensamos que eles estão mortos, mas sonhos não morrem, estão sempre vivos, mesmo que nas profundezas da nossa alma.
Mas o efeito em nosso amigo foi outro, no caminho, conheceu a frustração de seus sonhos, mas isso não o derrubou. Prostrado olhou para o alto e iluminado teve sonhos ainda mais elevados, sonhou com coisa mais simples, no entanto tão complexo quanto o último, um grande sonho como lhe era comum. Sonhou em fazer sua amada feliz.
Sonhos impossíveis, mas que valiam lutar por eles. Utopias que nunca se realizariam, mas que o arremessava para cima. Horizontes distantes, que nunca alcançaria, mas que não o permitia parar de caminhar.
Todos os seus sonhos foram lançados em buracos, mas ele é caçador de esperança: Não permitirei que matem meus sonhos e projetos de vida. Nem serei medíocre a ponto de matá-los para viver confortavelmente o sonho dos outros, ou o inócuo projeto da sociedade do capital.
Meu amigo está a procura de sonhos mais simples, lá nos buracos da sua alma, aprendeu com os poetas a ver beleza nas coisas simples da vida.
Como disse Pessoa: Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
Desejo morrer por algo que valha a pena morrer, e viver por algo que valha a pena viver.
Nunca permita que matem seus sonhos, quando eles se forem, você estará aí, mas deixará de viver.
Sonhe, ouse, lute, caia, levante, pense, tire a poeira,caminhe, trate as feridas, siga...
Vale a pena viver!
“Garanto que uma flor nasceu. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto...”