Meus contemporâneos que usufruem de um mínimo de lucidez - alguns amigos meus têm esse defeito - ao tentar compreender a realidade atual sentem-se cegos tateando caminhos em terras baldias, levando em mãos alguns Mapas Rasurados.
Cegos, caminhamos felizes, por que temos os mapas.
Nas manhãs de domingo sento-me com alguns desses amigos para ler um desses mapas. Cantamos músicas, nos abraçamos, e seguimos perdidos por nossos caminhos achados.
A geração anterior acreditava que com os óculos certos e com Mapas adequados conseguiríamos encontrar os caminhos que conduziria a humanidade para uma realidade melhor. Tinham bons olhos, acreditavam em utopias, acreditavam no ser humano.
Não enxergavam que: “O Homem, que, nesta terra miserável, vive, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera.”
Hoje, engolidos pela Grande Fera chamada Sistema Capitalista Neoliberal, alimentam a Besta com a qual antes lutavam... Outros não só alimentam com seus próprios corpos, seus corpos já se tornaram feras. O PT, Partido dos Trabalhadores é um claro exemplo.
As pessoas não desejam Mapas, logo, a Sociedade do Consumo não os produz. No máximo produzem tapa-olhos para a cegueira coletiva não ficar tão evidente.
Nessa sociedade sem Mapas, as pessoas caminham como rebanho, cada uma com o focinho no rabo da outra. Pessoas que são massa humana, negadas como sujeitos históricos, sem consciência libertária e sem um projeto de futuro, massa sempre manipulada pelas ideologias das elites.
Com um mapa rasurado em uma mão, e segurando nas mãos dos companheiros de caminhada com a outra, sem enxergar bem os caminhos tentamos prosseguir ouvindo sempre às palavras daqueles que mesmo sem nenhuma luz conseguem enxergar caminhos: poetas e profetas.
“O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
(*) Imagem - Tela de Salvador Dali - [La Femme Nue dans le Desert]